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߲ݴý do Pantanal participa de ação da justiça itinerante em comunidade Guató

Atendimentos integram projeto do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul com diversas instituições parceiras

À convite da Defensoria Pública da União, o ߲ݴý do Pantanal (CPan), por meio da professora do curso de Direito Elaine Dupas, participou da ação itinerante do Núcleo Regional da DPU na comunidade indígena Guató, localizada no Pantanal, em Corumbá. As atividades ocorreram entre os dias 22 e 26 de abril e reuniram várias instituições e proporcionam assistência jurídica gratuita de qualidade às comunidades mais necessitadas e que não tem tanto acesso à justiça, além de promover a cidadania, por meio do projeto

“Já participei em outros projetos da DPU. Neste auxiliei nos atendimentos jurídicos e no mapeamento das demandas”, explicou a professora Elaine. “É uma ação essencial para o acesso à justiça e para a cidadania. A comunidade Guató é a originária mais isolada de Mato Grosso do Sul. Segundo os organizadores foram mais de 600 atendimentos. “Acredito que a extensão é essencial para o impacto que a Universidade tem na sociedade. Esse ano participei de duas ações, essa em Corumbá e outra nas aldeias indígenas de Dourados, nas duas fazendo atendimentos jurídicos e levando acesso à justiça com outras instituições como parceiras”, complementou a professora que também é analista de gerência de articulações e ações de cidadania do Observatório da Cidadania do Mato Grosso do Sul, vinculado à ߲ݴý, e conselheira do time Enactus ߲ݴý Pantanal.

Sobre a experiência na comunidade Guató, Elaine detalhou que “levamos atendimento, conhecimento, coletamos dados, observamos e temos a chance de colocar em prática a teoria de sala de aula. A comunidade guató é a mais isolada dos indígenas do MS e a expedição também teve a oportunidade de atender a comunidade ribeirinha. Por meio da ação pude conhecer o território indígena e pantaneiro e pude concretizar a função social universidade. Uma experiência assim é enriquecedora profissional e pessoalmente. Saímos de lá bem melhores do que chegamos e com a certeza que podemos fazer muito pela sociedade e que as demandas são várias”.

Entre os atendimentos realizados, um chamou bastante a atenção da professora. “De todos, o mais peculiar foi de uma família de origem guató que vive na Barra do São Lourenço. São 5 filhos e os pais, 2 filhos são albinos e com baixa visão. O clima pantaneiro é hostil, extremo calor e muita claridade. Foi bem impactante ver as crianças, com olhinhos quase fechados, naquele lugar que não é absolutamente nada apropriado para eles. Mas, a vida se impõe e eles nasceram, moram e vão continuar lá. A demanda principal era para que o filho mais velho tenha um professor de apoio para que possa fazer as leituras do conteúdo, visto que os pais não sabem ler e não conseguem ajudá-lo. Porém, notamos que também há necessidade de exames mais específicos de saúde, óculos mais adequados e fornecimento de protetor solar”, comentou.

“Outro ponto importante é ressaltar que essa foi uma demanda espontânea, ou seja, eles viram no meu perfil no Instagram que estava na expedição Guató e fui acionada para ver se poderíamos fazer esse atendimento. Levei ao conhecimento dos organizadores e do comandante do navio, que prontamente incluíram essa parada no roteiro. Percebo que a figura do professor é algo que transmite confiança, como se ali fosse um porto seguro. Foi maravilhoso vivenciar isso na prática”, acrescentou Elaine. Ela lembra que essa mesma família foi atendida em abril de 2022, também em uma ação da justiça federal itinerante, da qual participou o professor da Faculdade de Direito Aurélio Briltes.

Na avaliação da professora do CPan, a experiência toda foi maravilhosa. “Desde a organização, os parceiros envolvidos, o transporte feito pelo navio de transporte fluvial Paraguassu, da Marinha do Brasil, a forma de aldeamento dos guatós, a distância, as dificuldades do caminho… O rio é um mundo a parte que não temos acesso. Ali as pessoas vivem retirando do rio e das matas a sua subsistência, sendo pouco assistidas esporadicamente pelo Estado”, finalizou.

A ação

“Sejam bem-vindos dentro da nossa comunidade. Eu quero agradecer, como cacique, pela primeira vez dessa ação dentro da nossa comunidade, para ajudar nossos indígenas, para fazer os documentos dos nossos parentes, dos nossos filhos, dos nossos netos, isso é importante. Que bom que vocês estão vindo aqui conhecer nossa realidade”. Foi assim que o cacique da Aldeia Uberaba, Osvaldo Corrêa da Costa, sintetizou o significado da Expedição Guató, realizada pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, por intermédio do Conselho de Supervisão dos Juizados Especiais (CSJE). A comunidade Guató está localizada cerca de 340 quilômetros da área urbana de Corumbá, a ação contou com a colaboração de diversas instituições parceiras. Foram oferecidos mais de 30 tipos diferentes de serviços aos indígenas.

O presidente do CSJE Alexandre Bastos enfatizou, durante a cerimônia de abertura dos trabalhos, a relevância da ação como marco da integração da comunidade no aparato estatal. “A oportunidade hoje quem proporciona são vocês, povo Guató, que recebe essa parcela do Estado que está representada hoje. E Estado no sentido amplo da palavra, sem importância das divisões que o homem branco faz, Estado sem importância das atribuições e esferas, se é federal, estadual ou municipal, não importa. Aqui hoje está o Estado, um pedaço dele, que veio aqui para poder reconhecer a importância e a origem de vocês, reconhecer a ancestralidade e a ocupação desse território muito antes de todos nós, e é por isso que esse território pertence a vocês”.

Ainda na cerimônia foi feita a apresentação pelas crianças da aldeia da canção tradicional Herera Magun, ensaiada pela professora indigenista Francisca Vasques Mendes, para recepcionar os convidados. Em seguida, um grupo de homens e anciões indígenas iniciaram a dança típica de força Gokô arero Tito vogun oge com (nossas vidas são um rio, em tradução livre). Como forma de agradecimento pela ação, eles convidaram representantes da expedição para se juntar a eles na dança, entre eles o Des. Alexandre Bastos e o comandante do navio de transporte fluvial Paraguassu, capitão de corveta Jackson Melo da Silva.

“Nós da Marinha ficamos muito felizes de participar de projetos como esse. Uma das missões da Marinha é justamente essa, levar direitos, levar cidadania, auxílio, ajuda, saúde em todas as partes longe das nossas casas. Fico muito agradecido em participar, espero que hoje seja um dia repleto de felicidades para todos nós, tenho certeza de que os militares da Marinha do Brasil sairão daqui muito mais felizes, com o coração mais humano, não só o pessoal da Marinha, mas todos os participantes”, disse o capitão.

A Expedição Guató vinha sendo preparada desde o início do ano. No dia 26 de março, durante o segundo Gabinete de Integração realizado pelo presidente Sérgio Martins em Corumbá, foi assinada a parceria com a Marinha do Brasil que viabilizou esta ação.

O navio Paraguassu saiu no dia 22 de abril do Comando do 6º Distrito Naval em Ladário. Com 92 pessoas a bordo, entre passageiros e tripulantes, a embarcação subiu o Rio Paraguai por dois dias até abarrancar na região da Ponta do Morro. Por razões de profundidade, embarcações menores, entre elas uma do Batalhão da Polícia Militar Ambiental (BPMA) sob responsabilidade do comandante-geral do BPMA, tenente-coronel Cleiton Douglas da Silva, terminaram o percurso e levaram os representantes das instituições até a Aldeia Uberaba para os atendimentos.

Além dos diversos atendimentos, ao longo do dia foram distribuídos brinquedos, kits de higiene pessoal, absorventes e casacos. Também foram parceiras na ação: INSS, Receita Federal, Corpo de Bombeiros, Instituto de Identificação, Secretaria Estadual de Educação, Cartório Extrajudiciário, Prefeitura de Corumbá, Secretaria de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Defensoria Pública Estadual, Funai, Polícia Civil e Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania.

 

Texto: Vanessa Amin e Secretaria de Comunicação do TJ MS

Fotografias: Acervo pessoal da professora Elaine e Secretaria de Comunicação do TJ/MS