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Curso de formação em Línguas Indígenas de Sinais capacita mais de 120 professores

A linguagem é rica em sabedoria e deve ser acessível a todos, independentemente da forma escolhida para se comunicar. Seja oral ou por sinais linguísticos, a comunicação é fundamental para todos, sem distinção de etnia. Com o progresso das pesquisas em linguística e educação de indígenas surdos, e das línguas indígenas de sinais no Brasil, houve a necessidade de fornecer informações e apoio direto aos professores e surdos atuantes em escolas indígenas e urbanas. Essa ação foi uma resposta ao investimento na formação específica, alinhada à política linguística para o ensino de línguas a esses profissionais.

Para garantir o uso e difusão da Língua Indígena de Sinais nas comunidades indígenas, os professores indígenas David Kaique, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, e Bruno Henrique, da Universidade Federal de São Carlos, propuseram a ideia do curso de extensão para a formação EaD de professores indígenas em Línguas Indígenas de Sinais (LIS), que veio de encontro com o estudo que vinha sido desenvolvido pela professora da Faculdade de Educação, Shirley Vilhalva, por meio da pesquisa Mapeamento das línguas de sinais emergentes: um estudo sobre as comunidades linguísticas indígenas de Mato Grosso do Sul. A iniciativa surgiu da urgência em formar profissionais comprometidos com o ensino, aprendizagem e atendimento a estudantes indígenas surdos em escolas indígenas e urbanas, assegurando a acessibilidade comunicacional em suas comunidades. 

Após a apresentação da ideia à professora da Faed e ao docente do ߲ݴý de Aquidauana, Bruno Roberto Nantes Araújo, o curso tomou forma e destacou-se como uma ação pioneira. Passou a não apenas proporcionar uma formação especializada para os professores indígenas em LIS, mas também a contribuir para a política linguística e educacional, desempenhando um papel crucial no processo de curricularização da LIS no Brasil.

O professor do ߲ݴý de Aquidauana e coordenador do curso, Bruno Roberto Nantes Araujo, destaca a relevância do projeto.  “De forma geral, este projeto foi muito importante para todos nós, professores e extensionistas. Pudemos compreender a complexidade e a necessidade e a urgência de compartilhar os conhecimentos tão recentes sobre as línguas indígenas de sinais e sobre educação de indígenas surdos. Da valorização das línguas orais e das línguas de sinais de cada etnia, do seu reconhecimento e da materialização dessas línguas indígenas de sinais em seus povos, engrandecendo suas culturas diversas, suas ancestralidades e cosmovisões. Das diversas identidades indígenas surdas, da preocupação do atendimento educacional especializado para estes estudantes indígenas surdos, principalmente no que tange à sua Língua Indígena de Sinal (LIS). A necessidade dessa  formação aos profissionais que estão  já atuando, e fortalecendo e transformando suas práticas educativas e didáticas. Pode trazer protagonismo aos professores indígenas e surdos em novas pesquisas e ações nas escolas indígenas e escolas no contexto urbano”, ressalta.

A formação também ocorreu com a vice-coordenação da professora da Faculdade de Educação, Shirley Vilhalva, especialista em docência e tradução em Libras e referência nacional no tema, que pesquisa há 40 anos sobre surdos e surdocegos, e há 32 anos sobre indígenas surdos. Vilhalva relata o sentimento de avanço na área. “Para mim, como professora e pesquisadora surda foi muito emocionante, no sentido de conseguir estar mais próximos dos profissionais indígenas que estão buscando conhecimento sobre Libras e agora a LIS. Durante o Curso eu me empenhava também em mostrar a realidade surda em todos os aspectos de atualização de pesquisas sobre a Língua Indígena de Sinais”, disse.

Um dos idealizadores do curso, David Kaique Rodrigues dos Santos, que também é indígena da etnia Pataxó Hãhãhãe, comenta sobre a inclusão da língua no currículo de formação de professores. “A Língua Indígena de Sinais é uma língua, sendo assim, um patrimônio cultural. Portanto, é crucial que lutemos por políticas linguísticas e educacionais que assegurem os direitos dos indígenas surdos. Isso inclui a oficialização da LIS, sua inclusão como componente curricular na Educação Básica, a incorporação da LIS no currículo de formação de professores como obrigatório no Ensino Superior e discussões sobre a LIS em diversos espaços, instituições e frentes”, disse.

O curso

Realizado no Ambiente Virtual de Aprendizagem da ߲ݴý e transmitido pelo Canal Institucional no YouTube, o curso teve aulas assíncronas, facilitando a participação de indivíduos com diferentes horários disponíveis. O público-alvo abrangeu professores de comunidades indígenas, formados em cursos de licenciatura, bacharelado em Letras Libras, estudantes de licenciaturas e bacharelado em Letras Libras, pedagogia e profissionais da educação básica pública ou privada (gestores, técnicos e professores). 

O corpo docente, composto por 12 professores voluntários de diferentes estados e instituições de ensino, incluiu indígenas surdos, indígenas ouvintes atuantes na educação de indígenas surdos e parceiros professores de instituições superiores. O curso foi estruturado em seis unidades, cada uma ministrada por especialistas na área e abordou temas como Teoria da Educação de Surdos, Interculturalidade e Formação Docente, Produção de Material Didático Específico para Indígenas Surdos, Práticas de Ensino para Docentes Indígenas, Didática e Metodologia do Ensino, e Conceitos e Aspectos das LIS.

A ênfase foi na aplicação prática dos conhecimentos, incluindo a importância da cultura e identidade dos povos originários. A formação buscou valorizar e preservar as línguas de sinais utilizadas dentro das terras indígenas, aldeias e comunidades, bem como as línguas de sinais empregadas pelos indígenas surdos no ambiente urbano. O curso teve um grande impacto, beneficiando cerca de 122 participantes indígenas e sobressaindo-se pela participação de não indígenas na área, que receberam certificados especiais.

Texto: Elton Ricci